Coluna de Paulo Caetano. O dilema do primeiro emprego na aviação: O que ninguém conta aos novos pilotos 4m1q6h
Por Paulo Caetano
Todo aluno piloto ou recém-habilitado ouve frases como “o mercado está aquecido”, “faltam pilotos no mundo”, ou ainda “a aviação vai bombar nos próximos anos”. Verdades parciais, que muitas vezes mascaram uma realidade menos romântica: conseguir o primeiro emprego como piloto comercial ainda é um desafio brutal.
E não se trata apenas de números ou vagas abertas. O que separa o recém-habilitado da vaga no cockpit é uma combinação de fatores pouco discutidos em sala de aula ou nos simuladores. O primeiro deles? A experiência mínima exigida, mesmo para o cargo de copiloto.
A EXPERIÊNCIA QUE “NINGUÉM TEM”
É comum encontrar vagas para copiloto exigindo de 200 a 500 horas de voo, um número que a maioria dos recém-formados ainda está longe de alcançar. E aí começa o ciclo vicioso: não te contratam por falta de horas, e você não consegue horas porque ninguém te contrata.
Alguns tentam quebrar esse ciclo via aviação geral, instrução ou até pagando por horas em aviões de pequeno porte. Outros investem pesado em simuladores homologados e cursos específicos. Mas tudo isso custa caro, em um setor já elitizado e pouco ível.
A ROTINA INVISÍVEL DO ASPIRANTE A COPILOTO
Pouco se fala também da pressão emocional vivida por quem está nessa fase. São currículos enviados aos montes, horas gastas na atualização de perfil em sites de recrutamento, grupos de WhatsApp com informações que nem sempre se confirmam, e uma espera que pode durar meses ou anos.
A ansiedade é alimentada pela aparente movimentação do mercado, que parece estar contratando “todo mundo, menos você”. Mas o buraco é mais embaixo: as cias aéreas priorizam perfis específicos, com background técnico, inglês fluente, comportamento profissional e, cada vez mais, alinhamento com a cultura corporativa.
VALE A PENA CONTINUAR?
Sim, vale. Mas é preciso ajustar as expectativas. A entrada no mercado raramente é linear. Muitos pilotos comerciais atuam primeiro como instrutores, copilotos na aviação executiva, ou até fora da aviação, enquanto aguardam a oportunidade certa.
Ter as licenças e o CMA (certificado médico aeronáutico) em dia, manter o inglês afiado, estudar constantemente os manuais e perfis de voo das empresas, e buscar mentorias com quem já está no mercado são estratégias reais, e funcionam!
Mais importante ainda é manter a mentalidade de longo prazo. A carreira de piloto é construída como um voo por etapas. Às vezes, o céu fecha na decolagem, mas abre lá na frente.
UMA QUESTÃO DE MATURIDADE PROFISSIONAL
Empresas não contratam apenas “pilotos”. Contratam profissionais da aviação. Pessoas que saibam operar uma máquina complexa, sim, mas que também saibam trabalhar em equipe, respeitar hierarquia, entender o contexto operacional e representar bem a companhia na cabine e fora dela.
Esse amadurecimento é fundamental. Não basta voar bem. É preciso ser confiável, coerente e ético, mesmo sem uniforme ou escala.
Entrar na aviação comercial não é uma linha reta, é uma curva de aprendizado constante. O primeiro emprego pode ser difícil, mas ele chega para quem persiste, se adapta e continua crescendo, mesmo fora da zona de conforto.
O que ninguém conta é que o verdadeiro voo começa antes do embarque. E se você estiver disposto a enfrentar turbulências iniciais, logo verá a pista livre para sua decolagem profissional.
*Paulo Caetano é: Piloto Comercial de Avião, Especialista em Direito Aeronáutico, Pós graduado em Gerenciamento Estratégico de Pessoas, MBA em Engenharia de Perícias , Palestrante e Colunista do Jornal Cotia Agora